Em maio de 2025, o Ministério do Trabalho e Emprego publicou a Portaria nº 765/2025, que alterou novamente a entrada em vigor da nova redação da NR-1 — Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). A nova data passa a ser 25 de maio de 2026.
Essa decisão dá às empresas um fôlego extra, mas também reforça a importância de não deixar tudo para a última hora — principalmente no que diz respeito à identificação de riscos psicossociais, tema cada vez mais presente nas fiscalizações, auditorias e no radar dos profissionais de SST.
O que é a nova NR-1?
A Norma Regulamentadora nº 1 estabelece as diretrizes gerais sobre saúde e segurança no trabalho em todas as atividades econômicas. Com as atualizações iniciadas em 2019, a NR-1 passou a exigir um Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) formal e estruturado, substituindo os antigos programas de forma isolada (como PPRA).
Essa abordagem é mais abrangente, pois integra o Inventário de Riscos e o Plano de Ação como parte essencial da gestão de segurança da empresa. Além disso, a nova NR-1 estabelece obrigações específicas para capacitação de trabalhadores por meio de treinamentos com conteúdos programáticos, cronogramas, carga horária definida e até mesmo registro audiovisual da atividade.
Com a prorrogação, o prazo de adequação foi estendido, mas as exigências continuam válidas — e a fiscalização, ativa.
Por que a prorrogação aconteceu?
A principal justificativa para o adiamento, segundo o governo federal, foi permitir que empresas e prestadores de serviços pudessem se adequar ao eSocial S-2240, que exige detalhamento dos riscos aos quais cada trabalhador está exposto.
Além disso, o novo texto da NR-1 exige que empresas classifiquem os riscos de forma mais detalhada — e isso tem gerado dúvidas, especialmente quanto à avaliação de fatores psicossociais e comportamentais, que nem sempre estão presentes no inventário tradicional de riscos físicos, químicos e biológicos.
O que são riscos psicossociais?
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), riscos psicossociais são aqueles que afetam a saúde mental, emocional e relacional do trabalhador. Eles incluem:
- Assédio moral e sexual
- Sobrecarga de trabalho
- Falta de reconhecimento
- Ambiente competitivo ou tóxico
- Jornadas extensas e ritmo acelerado
- Falta de autonomia ou clareza nas tarefas
Esses fatores estão diretamente ligados a transtornos como ansiedade, depressão, burnout e estresse crônico, todos já reconhecidos como causas de afastamento pelo INSS e doenças ocupacionais conforme o CID-11.
O que muda com o GRO?
A inclusão de riscos psicossociais no Inventário de Riscos e no Plano de Ação do GRO traz mudanças importantes:
- Mapeamento mais amplo: não basta identificar riscos visíveis. É necessário ouvir os trabalhadores e mapear o ambiente emocional e relacional.
- Participação ativa da CIPA: as comissões passam a ter papel estratégico na coleta de informações subjetivas.
- Ações preventivas com foco humano: promover programas de saúde mental, treinamentos sobre empatia e liderança, campanhas contra o assédio.
- Capacitação contínua: líderes precisam estar preparados para lidar com temas sensíveis e atuar como multiplicadores de cultura saudável.
Insight rápido: Segurança do trabalho vai além do físico — ela passa pela saúde emocional e pelo respeito às pessoas.
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Como começar a se preparar?
Mesmo com a nova data em 2026, o momento certo para agir é agora. Veja algumas direções iniciais:
- Atualize o inventário de riscos com base na realidade atual da equipe. Use ferramentas como pesquisa de clima, entrevistas individuais e observação ativa.
- Inclua saúde mental no planejamento da SIPAT. Traga palestras e dinâmicas que discutam burnout, ansiedade, empatia e escuta ativa.
- Reveja os treinamentos obrigatórios. Garanta que a carga horária e os conteúdos estejam alinhados à nova NR-1.
- Traga o RH e a liderança para o processo. Segurança emocional exige políticas claras, canais de escuta e uma postura humanizada dos gestores.
O que as empresas de sucesso estão fazendo?
Empresas que se destacam em segurança e clima organizacional já adotaram algumas dessas boas práticas:
- Criaram comitês internos de bem-estar ou “embaixadores da escuta”.
- Têm palestras regulares sobre segurança comportamental — com formatos inovadores que misturam conteúdo e emoção.
- Estimulam a denúncia segura de abusos, com canais confidenciais.
- Estão usando indicadores de clima emocional como parte do GRO.
A boa notícia? Tudo isso pode começar com ações simples, como diálogos sinceros, momentos de escuta ativa e incentivo à cultura de respeito.
E você, vai esperar até 2026?
A prorrogação da NR-1 oferece tempo, mas também impõe responsabilidade. Empresas que antecipam as mudanças colhem resultados antes: menos afastamentos, melhor clima interno, mais produtividade.
Se o seu time ainda não discutiu como implementar a nova NR-1 com foco nos riscos psicossociais, esse é o momento ideal para começar.
Fontes
- Portaria nº 765/2025 – MTE
- OIT – Riscos psicossociais e saúde ocupacional, Genebra, 2022
- Observatório de SST – Causas de afastamento por saúde mental no Brasil, 2024
- ABNT NBR ISO 45003 – Diretrizes para gestão de saúde psicológica no trabalho